segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

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Distantes, desantentos
assim são os sonhos
de quem a todo tempo
acusadoras vozes escuta.

Se em Deus acreditasse
quem sabe rezaria
para que doce fosse a vida;
não bruta.

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A felicidade é distante para quem olha-a de longe.

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"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu."

Caio Fernando Abreu

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— Tudo o que os símbolos escritos podem dizer já passou. Eles são como pegadas deixadas por animais. Essa é a razão pela qual os mestres da meditação recusam-se a aceitar que os escritos sejam definitivos. O objetivo é atingir o ser verdadeiro por meio dessas pegadas, dessas letras, desses signos - mas a realidade mesma não é um signo, ela não deixa pistas. Ela não chega a nós por meio de letras ou palavras. Nós podemos ir até ela seguindo letras e palavras até o lugar de onde vieram. Mas enquanto estivermos preocupados com símbolos, teorias e opiniões, não conseguiremos alcançar seu princípio.
— Mas abdicar de símbolos e opiniões não nos deixa no vazio absoluto do ser?
— Sim.

KIMURA KIUHO, Kenjutsu Fushigi Hen
[Dos mistérios da arte da espada],
1768

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Vida
é tudo aquilo que há

[en] frente

o resto é instante
que ganhamos de presente

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Hoje vou tentar dormir, quero um pouco de silêncio;
solidão, essa eu tenho de sobra.

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Sempre escrevo sobre os pesadelos que tenho. Hoje resolvi ilustrar. Algumas horas entre o Painter e o Photoshop, uns riscos aqui e outros ali, e ei-lo. Perturbador, de fato. Pelo menos ultimamente eu tenho sonhado.

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Em outras palavras, eu sou três. Um homem fica sempre no meio, despreocupado, sem se emocionar, observando, esperando que lhe permitam expressar o que ele vê para os outros dois. O segundo homem é como um animal assustado, que ataca por medo de ser atacado. E, então, há uma pessoa gentil e superamorosa que acolhe as pessoas no templo mais sagrado do seu ser, aceita insultos, confia, assina contratos sem ler, cai na conversa dos outros e acaba trabalhando barato ou de graça, e quando percebe o que lhe fizeram tem vontade de matar e destruir tudo ao seu redor, inclusive a si mesmo, por ter sido tão estúpido. Mas não consegue, e retorna para dentro de si mesmo.

— Qual deles é real?

São todos reais.

in Beneath the Underdog: His World as Composed by Mingus,
Vintage Books, Setembro, 1991. ©Charles Mingus & Nel King

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Lembra de quando, mãos dadas, rezávamos por ter medo de morrer dormindo? E se eu te contar que depois daqueles dias nunca mais rezei? Que talvez eu estivesse ali, repetindo aquelas palavras todas, porque tu estavas comigo? E sim, é fato: não sei mais rezar. E não é porque perdi a fé. Essa eu nunca tive.

Perdi o medo.

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