domingo, 23 de junho de 2013

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A despeito do barulho infernal, 
o que incomoda mesmo é o silêncio.

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sábado, 22 de junho de 2013

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Minha vida em 3D:
dias, decepções e desilusões.

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quinta-feira, 20 de junho de 2013

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Não existe nada entre a hora escura e sol que nunca brilha. Apenas ausência.

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

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Distantes, desantentos
assim são os sonhos
de quem a todo tempo
acusadoras vozes escuta.

Se em Deus acreditasse
quem sabe rezaria
para que doce fosse a vida;
não bruta.

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A felicidade é distante para quem olha-a de longe.

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"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu."

Caio Fernando Abreu

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— Tudo o que os símbolos escritos podem dizer já passou. Eles são como pegadas deixadas por animais. Essa é a razão pela qual os mestres da meditação recusam-se a aceitar que os escritos sejam definitivos. O objetivo é atingir o ser verdadeiro por meio dessas pegadas, dessas letras, desses signos - mas a realidade mesma não é um signo, ela não deixa pistas. Ela não chega a nós por meio de letras ou palavras. Nós podemos ir até ela seguindo letras e palavras até o lugar de onde vieram. Mas enquanto estivermos preocupados com símbolos, teorias e opiniões, não conseguiremos alcançar seu princípio.
— Mas abdicar de símbolos e opiniões não nos deixa no vazio absoluto do ser?
— Sim.

KIMURA KIUHO, Kenjutsu Fushigi Hen
[Dos mistérios da arte da espada],
1768

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Vida
é tudo aquilo que há

[en] frente

o resto é instante
que ganhamos de presente

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Hoje vou tentar dormir, quero um pouco de silêncio;
solidão, essa eu tenho de sobra.

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Sempre escrevo sobre os pesadelos que tenho. Hoje resolvi ilustrar. Algumas horas entre o Painter e o Photoshop, uns riscos aqui e outros ali, e ei-lo. Perturbador, de fato. Pelo menos ultimamente eu tenho sonhado.

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Em outras palavras, eu sou três. Um homem fica sempre no meio, despreocupado, sem se emocionar, observando, esperando que lhe permitam expressar o que ele vê para os outros dois. O segundo homem é como um animal assustado, que ataca por medo de ser atacado. E, então, há uma pessoa gentil e superamorosa que acolhe as pessoas no templo mais sagrado do seu ser, aceita insultos, confia, assina contratos sem ler, cai na conversa dos outros e acaba trabalhando barato ou de graça, e quando percebe o que lhe fizeram tem vontade de matar e destruir tudo ao seu redor, inclusive a si mesmo, por ter sido tão estúpido. Mas não consegue, e retorna para dentro de si mesmo.

— Qual deles é real?

São todos reais.

in Beneath the Underdog: His World as Composed by Mingus,
Vintage Books, Setembro, 1991. ©Charles Mingus & Nel King

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Lembra de quando, mãos dadas, rezávamos por ter medo de morrer dormindo? E se eu te contar que depois daqueles dias nunca mais rezei? Que talvez eu estivesse ali, repetindo aquelas palavras todas, porque tu estavas comigo? E sim, é fato: não sei mais rezar. E não é porque perdi a fé. Essa eu nunca tive.

Perdi o medo.

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

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"Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo."

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terça-feira, 14 de junho de 2011

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429

Em todos os lugares da vida, em todas as situações e convivências, eu fui
sempre, para todos, um intruso. Pelo menos, fui sempre um estranho. No meio
de parentes, como no de conhecidos, fui sempre sentido como alguém de fora.
Não digo que o fui, uma só vez sequer, de caso pensado. Mas fui-o sempre por
uma atitude espontânea da média dos temperamentos alheios.

Fui sempre, por toda parte e por todos, tratado com simpatia. A pouquíssimos,
creio, terá tão pouca gente erguido a voz, ou franzido a testa, ou falado alto ou
de terça. Mas a simpatia, com que sempre me trataram, foi sempre isenta de
afeição. Para os mais naturalmente íntimos fui sempre um hóspede, que, por
hóspede, é bem tratado, mas sempre com a atenção devida ao estranho, e a
falta de afeição merecida pelo intruso.

Não duvido que tudo isto, da atitude dos outros, derive principalmente de
qualquer obscura causa intrínseca ao meu próprio temperamento. Sou
porventura de uma frieza comunicativa, que involuntariamente obriga os
outros a reflectirem o meu modo de pouco sentir.

Travo, por índole, rapidamente conhecimentos. Tardam-me pouco as simpatias
dos outros. Mas as afeições nunca chegam. Dedicações nunca as conheci.
Amarem, foi coisa que sempre me pareceu impossível, como um estranho
tratar-me por tu. Não sei se sofra com isto, se o aceite como um destino
indiferente, em que não há nem que sofrer nem que aceitar.

Desejei sempre agradar. Doeu-me sempre que fossem indiferentes. Órfão da
Fortuna, tenho, como todos os órfãos, a necessidade de ser o objecto da
afeição de alguém. Passei sempre fome da realização dessa necessidade. Tanto
me adaptei a essa fome inevitável que, por vezes, nem sei se sinto a
necessidade de comer.

Com isto ou sem isto a vida dói-me.

Os outros têm quem se lhes dedique. Eu nunca tive sequer pensasse em se me
dedicar. Servem os outros: a mim tratam-me bem.

Reconheço em mim a capacidade de provocar respeito, mas não afeição.
Infelizmente não tenho feito nada com que justifique a si próprio esse respeito
começado quem o sinta; de modo que nunca chegam a respeitar-me deveras.
Julgo às vezes que gozo sofrer. Mas na verdade eu preferia outra coisa.
Não tenho qualidades de Chefe, nem de sequaz. Nem sequer as tenho de
satisfeito, que são as que valem quando essas outras faltem. Outros,
menos inteligentes que eu, são mais fortes. Talham melhor a sua vida entre
gente, administram mais habilmente a sua inteligência. tenho todas as
qualidades para influir, menos a arte de o fazer, ou a vontade, mesmo, de o
desejar.

Se um dia amasse, não seria amado.

Basta eu querer uma coisa para ela morrer. O meu destino, porém, não tem a
força de ser mortal para qualquer coisa. Tem a fraqueza de ser mortal nas
coisas para mim.


F. Pessoa,
sob o heterônimo de Bernardo Soares, em 18 de setembro de 1917

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O que é verdade em nossos corações, é verdade. Não importa que os outros não saibam.

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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

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I can’t see into the valley, because the fog only allows me to see about hundred meters of a greyish whiteness and when it starts snowing again the “panorama” becomes even smaller. It keeps snowing and it seems like it will never stop.

Every time i move in my moist clothes i am reminded of the terrible cold eating into my bones and i am so exhausted i can’t even shiver from it. Shivering would warm me up for a second or two, but i can not afford to loose any more strength, not even for keeping myself warm, because every additional move took away my chances of staying alive … and i wanted to live, if only for another day. That is how my every day looked; day after day, night after night …

How long do I have left – the eternal question? How long can I keep this up? How long?

In my uninterrupted string of thought i was looking for hope, hopeless hope, looking for answers, a meaning, a message, a revelation … and when i have once again asked myself every question and rethought every thought, I “shutdown”, some big breaths and i am gone to a world where there is no time or space, no pain, no thoughts and no revelations … i fell asleep. Opening the zipper of my sleeping bag to a new morning … with anxiety in my heart, not allowing myself to take a fast glance around … “No, nooooooooo!!!” The pain takes all my hopes away…again fog, humidity and snow all around me … i can’t feel my legs! Like two frozen logs, just lying there, not moving, like they are not even a part of me, like all this is happening to someone else, someone else is lying there, in this icy coffin – hope awakes, maybe this is all just a terrible dream. Realization follows: “i am still here, trapped in the coffin of ice!”

There are moments, when time stops;
there is no yesterday, no tomorrow, it’s just you;
your light lights up, like a comet in the skies, for a second;
trapped in timeless time that is not there at all;
drinking from a spring is a gift in the blessing of reality;
sometimes a smile, a touch of a warm hand, a look that does not need explaining, is enough;
those are the moments when time stops for you.

Tomaž Humar . 18.2.1969 - 10.11.2009
The morning between sky and earth

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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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Acordei e vi as coisas velhas na parede morta. E não era um sonho. Apesar da
casa nova, reformada, ao abrir os olhos recordei-me daquele dia em que minha
mãe entrou na sala quase sem móveis, apenas uns 3 banquinhos, um tapete
velho e uma TV pequenina em preto e branco. Naqueles dias de amargo
inverno não havia banho quente e a TV pequenina nada mostrava. Era mais
uma semana sem dinheiro, sem luz, sem saber quando e se meu pai voltaria
para casa.

Daquele dia recordo-me de absolutamente tudo, mas a coisa ainda mais
marcante aos olhos da criança de 6 anos de idade foram os olhos da mãe.
Estávamos meu irmão e eu recortando figuras de jornais velhos, as mãos sujas
de tinta preta. Minha mãe entrou bem devagar, sem fazer barulho, como se
escondesse alguma coisa. Olhou-nos e sorriu, e embora pareça para mim
estranho, tal e qual o estranho que me tornei para ela com o passar dos anos,
nunca mais a vi sorrir aquele mesmo sorriso daquele dia frio. Naquela tarde
não havia apenas um brilho diferente, havia também calor nos olhos dela.
Disse-nos boa tarde ao entrar, e pediu para que sentássemos. Foi só então que
percebi como meu corpo tremia de frio. Minha mãe tirou seu próprio casaco e
colocou sobre meus ombros para aliviar os tremores. Pausadamente, revelou
uma caixinha que trazia escondida às costas. Eu já sabia ler um pouco, mas a
mão dela cobria parcialmente as letras impressas na embalagem, de maneira
que não me atrevi a tentar adivinhar o que era a surpresa.

Pediu então ao meu irmão, dois anos mais velho, para que fosse à cozinha
apanhar duas canecas d´água. Em pouco tempo ele retornou, as duas mãos
ocupadas por duas canecas de barro, dadas à minha mãe pela minha avó
paterna, uma compensação pela noite em que meu pai entrou em casa aos
berros e quebrou quase tudo o que encontrou pela frente. Assim como os
poucos móveis, foram destruídas também nossas lancheiras e as pequenas
garrafas térmicas que usávamos para carregar o chá de capim limão que
minha mãe fazia para nós nos dias de frio.

Dias depois desse incidente, lembro de minha mãe chorando agarrada à
máquina de costura, a única coisa que ela conseguiu salvar quando meu pai
novamente apareceu, dessa vez com dois amigos e uma kombi. Entraram,
carregaram quase tudo o que tínhamos e levaram embora.
Deixaram a máquina de costura,talvez por pena, talvez porque não encontrariam
local em que pudessem vendê-la a um bom preço.
A TV pequenina também ficou. Pensaram que ela estava estragada,
logo, não faria sentido carregar "mais aquele lixo".

"Fique com essa merda", disse, abrindo uma lata de cerveja cara. E então deu
as costas, e só voltou a aparecer muitos anos depois, como se nada houvesse
acontecido, como se as cicatrizes do passado fossem invisíveis no presente. Ele
não havia quebrado somente nossa casa, nossas coisas. Em mim ele havia
destruído permanentemente um elo de paternidade, de carinho, respeito e
confiança.

Nas reuniões de pais e mestres da escola, nunca tive pai. Apenas minha mãe
comparecia. Minha mãe era - ainda é - mãe e pai. Era ela que me arrumava
para as festinhas em casa de colegas da escola, sempre com roupas
emprestadas de algum vizinho e ajustadas às pressas na máquina de costura.
Sim, era convidado, mas nunca pude levar presentes. Saía antes que
começassem a abrir os pacotes. Sempre fiz parte dessas reuniões, sempre
estive com eles, mas jamais fui um deles.

Ao sair, sempre cedo demais, tinha sempre guardadas na meia duas fichas
telefônicas, e era com elas que eu ligava para uma vizinha que, da janela,
gritava para avisar minha mãe. Ela largava o que fosse e vinha ao meu
encontro. Fazia o mesmo com o meu irmão. Minha mãe sempre foi mãe, a
melhor mãe do mundo, sempre esteve acima de qualquer coisa. Meu pai nunca
foi ninguém, e quando foi alguma coisa, essa coisa era uma sombra que
rondava em volta, faminta. Um fantasma do passado todavia presente, apesar
de agora a ausência ser minha. Não lembro dele quando acordo, nem quando
vou dormir. Hoje, excepcionalmente, as memórias resgatadas apresentam-se
apenas para introduzir o que tenho a dizer.

Para ajudar meu irmão, fui à cozinha e, assim como ele, enchi d´água uma
caneca, mas não uma caneca de barro, e sim uma velha caneca de alumínio,
ainda amassada depois do dia do estrago. Minha mãe sempre disse que a água
fica mais fresca quando colocada em canecas de alumínio. Enfim, estávamos
nós três ali reunidos, uma expectativa solene, as últimas horas do dia e com
elas o despertar de um sonho. Minha mãe revelou a caixinha toda e, como os
olhos dela, nossos olhos brilharam e também se encheram de calor. Foram
momentos extremamente doces, um lapso de alegria numa vida amarga.
Quietos e felizes, contemplamos essas horas. Sabíamos que, como os doces da
pequena caixa, as horas doces terminariam e dariam vez à novas e mais duras
horas amargas.

Não sei ainda a razão disso, mas daquele dia em diante soube que estava
preparado para qualquer coisa que me acontecesse. Lembro da minha mãe
cozinhando arroz numa leiteira colocada sobre uma lata com álcool, à luz de
duas velas. O momento doce não terminara, como pensávamos, quando
acabaram os doces da caixa. Apesar do gosto do chocolate ser substituído pelo
sal do arroz, a única comida naquela janta, aquele doce mantinha-se em
nossos olhos, em nosso pensamento.

Quando meu pai novamente retornou, desempregado e doente, não o via mais
como pai. Como se fosse um estranho que buscava abrigo, o acolhemos. Em
verdade, eles o acolheram. Assim que pude, que tive forças para me
desprender de tudo, fui embora. Na mochila pequena, quase nada. Na cabeça,
lembrança das horas doces passadas com minha mãe e meu irmão naquele dia
frio em que brincávamos de mãos sujas recortando figuras de jornais. Ao
passar pela banca em frente à padaria, vi uma caixinha igual à que minha mãe
nos trouxe naquele dia. Eu acabara de abandonar minha própria família, por
ter comigo uma mágoa que não era compatível com os sonhos deles de ter
uma família novamente.

Quando saí, nosso "hóspede" apenas disse, sem me olhar nos olhos, que "é
possível ter uma família com apenas um casal de filhos, mas nunca sem um
pai." Antes mesmo disso, por mais de uma vez chegou a dizer que não tinha
filhos. Nunca pude suportar a dor não de não ter um pai, mas a decepção de
nunca ser aceito como filho. Agora eu tinha uma irmã que, apesar de muito
pequena, chorou na hora em que me despedi. Ela não conseguia entender a
razão de eu estar saindo para nunca mais voltar. E talvez nunca entenda...
Entreguei o dinheiro ao senhor da banca, apanhei a caixinha de cima da pilha
de várias outras caixinhas iguais e fui embora. No meio do caminho para
qualquer lugar que fosse, uma mãe com duas crianças pedia dinheiro, comida
ou qualquer coisa. Abri a mochila e entreguei para ela a caixinha, e pude ver
também felicidade nos olhos deles. Nunca mais os vi. Nunca mais fiz o mesmo
caminho novamente.

Hoje, quando acordo e dou de frente com as mesmas paredes daqueles dias,
paredes iguais, apesar de novas, lembro que agora sou eu o estranho, o que
saiu sem previsão de retorno. Lembro das canecas de barro e dos jornais, da
caixa de Amanditas, do brilho nos olhos da minha mãe. Lembro das horas
doces. Sei que não há no mundo Amanditas suficientes para trazer de volta
aquela tarde, aquelas horas. E sei também que, enquanto as horas passam,
estou cada vez mais longe, apesar da força que faço para voltar.

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